Instruções da OMS para o teletrabalho

Organização Mundial de Saúde lança cartilha com instruções para home office; Brasil possui leis que delimitam o tema.

A pandemia de Covid-19 está presente na rotina das empresas há quase dois anos e uma coisa é certa: as relações de trabalho sofreram impactos significativos nesse período. Em muitas companhias, o teletrabalho foi a opção encontrada para conciliar a demanda por mais proteção e, ainda assim, manter a produtividade. E tem dado certo para a maioria, que já adotam modelos híbridos nesta retomada das atividades.

O teletrabalho, porém, apresenta uma série de riscos a serem avaliados da forma adequada por empregadores e empregados. Pensando nisso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) se juntaram para lançar a cartilha Healthy and Safe Telework (Teletrabalho seguro e saudável, em tradução livre). O documento tem como objetivo fornecer informações técnicas sobre o impacto dessa modalidade na saúde, segurança e bem-estar de todos.

Questões como os impactos do teletrabalho na saúde física e mental e no bem-estar social dos trabalhadores e de suas famílias, como organizar e realizar as atividades de forma segura e os papéis e responsabilidades dos empregadores são apenas alguns dos pontos levantados. Como o documento está em inglês, trouxemos as principais dicas fornecidas para a criação de um ambiente de trabalho mais saudável para todos.

Ambiente físico e ergonomia

Uma questão enfrentada pelos trabalhadores em casa é a configuração doméstica, que pode não atender aos mesmos padrões de segurança e saúde ocupacional que os locais de trabalho tradicionais. Mobiliário, desconforto térmico por aquecimento e resfriamento inadequados, iluminação, segurança elétrica, higiene doméstica e qualidade do ar são alguns dos pontos que devem ser observados para criar um bom ambiente ergonômico. Por isso, é preciso observar alguns pontos para quem vai aderir ao teletrabalho regular de longo prazo:

  • O espaço de trabalho deve ser privado, silencioso e seguro. Além de separar um espaço da casa dedicado a isso, uma “zona de conforto” pode ser criada organizando o monitor do computador e os dispositivos de entrada para que estejam próximos ao corpo, permitindo uma postura relaxada e confortável. A superfície de trabalho deve acomodar, no mínimo, um computador ou laptop com base e teclado removível.
  • A cadeira de escritório deve ser ergonômica, com altura ajustável, mecanismo de inclinação, apoio lombar, apoios de braço ajustáveis ​​e assento com largura e comprimento adequados, de modo que se ajuste ao trabalhador possa apoiar bem seu corpo.
  • Ao digitar ou usar o mouse, o trabalhador deve manter os pulsos em uma posição reta – e não rígida –, evitando posicionar os punhos em ângulos exagerados ou em uma posição que cause tensão. Mãos e pulsos devem estar livres para se mover ao digitar e não devem ser ancorados em um apoio.
  • Caso seja necessário usar smartphones ou tablets, eles devem ser elevados ao nível dos olhos ou ligeiramente abaixo. Um teclado ergonômico externo também é recomendado se for preciso digitar por um longo tempo.
  • A tensão visual e a fadiga ocular podem ser reduzidas se o monitor for posicionado para eliminar o brilho. Para reduzir esse efeito, os teletrabalhadores devem ser encorajados a focar regularmente em objetos distantes e, depois, descansar os olhos.
  • Riscos de escorregões, tropeções e quedas devem ser reduzidos organizando os cabos longe de qualquer área comum.
  • A circulação de ar, a ventilação e a temperatura devem ser adequadas.
  • O nível de ruído ambiente deve ser mantido o mais baixo possível e o uso de dispositivos de abafamento, como fones de ouvido, deve ser incentivado.
  • É preciso variar a postura e fazer pausas regulares para alongamento, de modo a reduzir o impacto do sedentarismo.
  • Quebras de rotina devem ser incentivadas. Isso pode ser feito, por exemplo, com lembretes ergonômicos virtuais para promover a atividade dos trabalhadores.

Riscos psicossociais

Se feito de forma adequada, o teletrabalho pode ser benéfico para a saúde mental e social do empregado, com melhorias no equilíbrio entre vida profissional e pessoal, redução do tempo de deslocamento para o trabalho e com oportunidades para arranjos de trabalho flexíveis. Mas ele também pode trazer prejuízos, com jornadas de trabalho mais longas, isolamento social e distanciamento. Se o trabalhador não tem acesso a um ambiente de trabalho privado e tranquilo em casa, tudo isso pode se agravar.

Além disso, alguns trabalhadores sentem os efeitos do isolamento profissional, devido à menor comunicação com os colegas e com a gerência. Por isso, algumas ações podem ser realizadas para encorajar interações sociais durante o teletrabalho:

  • Incentivar os trabalhadores a estabelecer limites nas horas de trabalho e manter um horário regular. Temporizadores e registros de horas podem ajudar nesse controle, mas as ferramentas devem ser confidenciais para que a pessoa não se sinta sob vigilância constante.
  • Evitar entrar em contato fora do horário de trabalho programado e incentivar a comunicação apenas no horário de trabalho programado.
  • Promover interações sociais durante o teletrabalho, como encontros virtuais, pode diminuir a sensação de isolamento.
  • Fornecer ferramentas e software de TIC para conectar os trabalhadores de forma eficiente com os colegas de trabalho e gerentes. Além disso, é preciso manter uma comunicação regular sobre
  • os acontecimentos atuais, compartilhando informações e ideias que podem contribuir para a solução de problemas.
  • Incentivar a prática de atividades sociais e recreativas ​​durante o trabalho, como pausas curtas para atividades físicas.
  • Informar sobre os potenciais riscos psicossociais relacionados ao teletrabalho, sintomas de doenças mentais e como podem ter acesso aos cuidados básicos de saúde.
  • Realizar treinamentos sobre comportamento apropriado e etiqueta digital para saber identificar e responder a abusos ou intimidações.

Comportamentos de saúde e bem-estar

As empresas podem ter um importante papel na promoção da saúde e do bem-estar por meio da promoção da alimentação saudável, atividades físicas e um equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Nesse sentido, o teletrabalho apresenta desafios únicos e oportunidades.

Como as pessoas estão fora do controle do empregador, pode ser difícil garantir que elas cumpram as políticas sobre tabagismo, uso de álcool e drogas. Também é difícil controlar deveres familiares, especialmente com crianças pequenas em casa. Por isso, respeitar os limites entre trabalho e tempo pessoal reduz estressores e melhora o desempenho do trabalhador. Mas não é apenas isso e algumas ações podem ser consideradas para promover comportamentos saudáveis ​​ durante o teletrabalho:

  • Incentivar e permitir que os teletrabalhadores definam limites, garantindo que eles mantenham uma rotina de atividades e um melhor gerenciamento de tempo, com flexibilidade.
  • O excesso de tempo de tela e o trabalho irregular pode afetar o sono. Por isso, é preciso manter um horário regular de sono e evitar telas antes de dormir.
  • Trabalhar em conjunto para desenvolver e implementar acordos de teletrabalho que permitam ter tempo para descansar, se recuperar e lidar com atividades pessoais.
  • Agendar atividades físicas recreativas em conjunto, como aulas fitness ou caminhada, contribui para aliviar as longas horas de trabalho sedentário.
  • Manter uma dieta saudável, que equilibre a ingestão e o gasto de energia, é importante para manter a saúde. Para isso, é possível planejar as refeições e os lanches, além de beber água suficiente.
  • Incentivar os trabalhadores a manter casas livres de fumo e fornecer apoio para programas de apoio contra o tabagismo.
  • Lembrar as políticas de drogas e álcool no local de trabalho, de acordo com as informações trabalhadas no código de ética da empresa.
  • Fornecer informações de saúde acessíveis, compreensíveis e realistas, levando em consideração
  • linguagem e adequação cultural.

O teletrabalho no contexto brasileiro

Apesar de não haver uma regulamentação específica sobre o teletrabalho no Brasil, há questões normativas presentes na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e na Norma Regulamentadora 17 (NR-17) que devem ser seguidas pelas empresas. É isso que sinaliza Mauro Müller auditor fiscal do Trabalho entrevistado pela Revista Proteção.

O especialista cita, especificamente, as mudanças trazidas pela Lei nº 13.467/2017, que alterou a CLT para adequá-la às novas relações de trabalho. “As organizações devem realizar a avaliação das atividades realizadas remotamente para verificar sua adequação às características psicofisiológicas dos trabalhadores, nos termos da NR-17, com a finalidade de proporcionar conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho”, diz.

De acordo com o texto legal, teletrabalho pode ser considerado como “a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo”. Essa questão deve constar expressamente no contrato individual de trabalho, sendo responsabilidade da empresa:

  • A aquisição, a manutenção ou o fornecimento dos equipamentos tecnológicos;
  • O reembolso das despesas arcadas pelo empregado;
  • A orientação sobre as precauções a serem tomadas para evitar doenças e acidentes de trabalho.

Sob a luz da NR-17, isso significa que as empresas devem avaliar as condições de adequação do espaço à atividade realizada, preocupando-se com o mobiliário, equipamentos, iluminação e postura dos funcionários. Todos esses fatores estão ligados à ergonomia e podem levar à dores e lombalgias, sem falar do prejuízo mental que pode ser sentido. Por outro lado, o trabalhador deve assinar um termo de responsabilidade comprometendo-se a seguir as instruções dadas pelo empregador.

Leia também: Ergonomia – monte o home office com o que se tem em casa

“Nos últimos anos, vivemos um período de crescimento dessa modalidade de trabalho em vários setores econômicos e vejo que as mudanças implementadas em várias organizações durante a pandemia vieram para ficar. Do ponto de vista da saúde do trabalhador, entendo que é possível manter esse modelo, desde que sejam adotadas medidas de prevenção, com a participação dos trabalhadores, como previsto nas normas de Segurança e Saúde no Trabalho”, explica Mauro.

Cuidados com o trabalhador

As ações de prevenção no home office exigem atenção do empregador e do próprio trabalhador. Para que elas sejam implantadas com qualidade, que tal contar com o apoio de quem entende do assunto? Há mais de 30 anos, o Grupo Ocupacional oferece serviços de qualidade ne área de Segurança e Saúde do Trabalho e está pronto para analisar sua empresa e oferecer as melhores soluções na área de SST. Solicite uma proposta e veja como podemos te ajudar!

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